Em sua essência, a arquitetura é uma profissão interdisciplinar. Desde engenheiros estruturais a agrimensores, um projeto de arquitetura desenvolve-se com a colaboração de indivíduos de diversas áreas de trabalho. Uma conexão muitas vezes esquecida é o elo entre os campos da arquitetura e da arqueologia, que, de várias maneiras, têm muito em comum. Numa época de maior consciência sobre as questões de sustentabilidade e patrimônio, a expertise presente no campo da arqueologia desempenha um papel vital na preservação de marcos arquitetônicos de importância histórica. Essa experiência também pode desempenhar um papel significativo na criação de intervenções arquitetônicas sensíveis, adequadas ao seu contexto, contemporâneas em seu projeto, ao mesmo tempo, em que respondem a precedentes históricos.
A arqueologia é a ciência que estuda os resquícios materiais e imateriais das gerações passadas. Desde a descoberta de ferramentas de pedra feitas pelos primeiros humanos até a descoberta de palácios e catedrais, as investigações arqueológicas desempenharam um papel central na formação de nossa compreensão de como vemos o mundo. Em conexão ao campo da arquitetura, a arqueologia também examina as técnicas de construção de edifícios, porém, a relação com a arquitetura não se limita apenas a este fator. A arqueologia, assim como a arquitetura, analisa as maneiras pelas quais as sociedades do passado foram organizadas e como elas transformaram a topografia e a paisagem.
Semelhante à arquitetura, a arqueologia também é inerentemente um campo interdisciplinar. Zoólogos, cientistas do solo e botânicos, por exemplo - podem todos trabalhar em um projeto arqueológico específico. Além disso, ela também atua em uma área cinzenta muito parecida com a arquitetura, que é comumente referida como uma ponte entre a arte e a engenhariam, configurando uma sinergia entre os diferentes campos. Os arqueólogos são como artesãos - especializados em um ofício como a escavação enquanto, simultaneamente, também desempenham o papel de historiadores, utilizando as informações coletadas nas escavações para retratar um relato preciso de uma sociedade histórica.
Recentemente, foram propostas intervenções arquitetônicas em locais do Patrimônio Mundial da UNESCO - todas as quais provavelmente exigiram consultas com arqueólogos. A esperada reforma do Coliseu - com a adição de uma plataforma retrátil de piso, contará com réplicas de elevadores e alçapões usados na época romana. A inserção dessas réplicas exigirá a perícia de arqueólogos - de modo a garantir a aparência precisa dos elementos arquitetônicos replicados. O recente concurso internacional de projeto para reconstruir e reabilitar o complexo Al Nouri em Mosul, também deve contar com o trabalho de arqueólogos para produzir um bom resultado. Conhecida por ser uma das cidades mais antigas do mundo, a cidade de Mosul está em processo de recuperação - após ter sido fortemente afetada pela destruição dos conflitos de 2014. A equipe vencedora deste concurso, o escritório ADD Architects, do Egito, criou um projeto integrado, no qual os edifícios recém-projetados no local devem ser inspirados na arquitetura tradicional da Cidade Velha de Mosul e manter a autenticidade da arquitetura do antigo complexo da cidade.
Nossa compreensão de marcos arquitetônicos significativos é intensificada pelo trabalho de arqueólogos. A análise da arquitetura das Pirâmides de Gizé, no Egito, por exemplo - contou com pesquisas de arqueólogos - para entenderem o porquê dessas estruturas terem sido construídas - e para especular sobre as técnicas de construção utilizadas na época. A arqueologia também depende fortemente do contexto, examinando as relações que diferentes artefatos têm com seu entorno e entre si. Um artefato encontrado em um sítio arqueológico tem um local definido - e esse local deve ser registrado por um profissional antes de ser relocado. Esse contexto permite que os arqueólogos entendam as ligações entre os sítios arqueológicos e os artefatos, de forma a fornecer um relato preciso de como as pessoas viviam no passado. Na arquitetura, a renovação do Museu Castelvecchio por Carlo Scarpa, provavelmente teve a colaboração cuidadosa entre arquitetura e arqueologia, já que seu projeto apresenta uma detalhada estratificação do novo sobre o antigo, com os elementos originais do Castelvecchio, deixados intactos.
A relação entre arquitetura e arqueologia é forte. À medida que entramos em um período em que as distinções entre vários campos são cada vez mais confusas, examinar a relação entre arquitetura e arqueologia e defender uma colaboração ainda mais estreita entre esses dois campos, tornaria um projeto arquitetônico mais rico - aprender com o passado para informar o presente.
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